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quarta-feira, 3 de março de 2010

"Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas”

XVI

Foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa

- Bom dia, respondeu polidamente o princepezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o princepezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o princepezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o princepezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o princepezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, tem fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o princepezino. Eu procuro amigos. Que quer dizer " cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa, Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o princepezinho. Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...

- É possivel, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o princepezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inutil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor, cative-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o princepezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cative-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o princepezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentirás mais perto...

No dia seguinte o princepezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares a mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, as quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. As quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o princepezinho.

- É uma coisa muito esuecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras oras. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as oças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não tieraria férias!

Assim o princepezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o princepezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o princepezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o princepezinho rever as rosas:

[Eis o mes seguedo é muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisivel para os olhos]

[ Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.]

O Pequeno Principe,  Antoine de Saint-Exupéry

- Pra uma certa menina que andou toda tristinha por esses dias só pra ela saber..que ela me cativa..e pra dar os parabéns pela colação ..-

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